Brasil já conta com 28 milhões de idosos

Estamos preparados para recebê-los?

12/12/2019

Para Joana, envelhecer jamais foi sinônimo de adoecer. Mãe de dois filhos e avó, costuma dizer “O tempo passa muito rápido, quando se vê, já foram 50 anos”.

No entanto, sexagenária e com alguns problemas de locomoção, não se limitou a fazer aquilo que fora seu propósito de vida: ensinar.

Dores articulares, diz ela, são pequenas perante o trabalho que exerce com afinco. Cabelos coloridos, sorriso e uma expressão que contagiam fazem desta mulher (não a chamem de senhora, é senhorita) uma pessoa que guardou o medo do tempo em uma gaveta esquecida. Professora universitária, fala que ainda tem muito a descobrir junto a seus alunos – “Eu ensino e todos aprendemos juntos, é uma troca muito recompensadora”.

É bem verdade que a idade está no RG e na forma de pensar. O Brasil possui vinte e oito milhões de idosos e este índice subirá na próxima década. Desta forma, faz-se necessário atender o crescimento da população sênior, especialmente no que concerne à saúde, alimentação e qualidade de vida.

Somos potentes produtores de beleza efêmera, segundo especialistas.  Embora a idade alcance a todos, aceitá-la como a soma de experiências e uma pitada de sabedoria não é um ciclo natural bem-vindo por todos – são as marcas de expressões, as rugas teimosas e as pálpebras “que deixam o olhar caído”. A dermocosmética e a cirurgia plástica até podem rejuvenescer, elevar a autoestima e auxiliar as emoções advindas dos anos que não perdoam. Amamos Botox, Ácido Retinóico, cirurgias plásticas. E existe retoque para a beleza interna? Este é gratuita e, acredite, compensa mais do que um abdômen perfeito.

E quem falou que necessitamos o perdão do tempo? Precisamos de um país que, além de naturalmente aceitar a melhor idade, resista a dogmas e reinvente-se.  O conceito de idoso mudou, fato este que movimenta a estrutura de locais públicos e abala o pensamento antiquado de quem pensa ser Peter Pan.

Convém ressaltar que não nos preparamos para atender esta parcela da população que deseja incluir-se, que procura a integração junto ao meio e que espera dele a não-rejeição. Ou seja, políticas públicas são cruciais para prolongar a vida, tais como vias com calçamento apropriado, atenção relacionada à saúde, sociabilidade, atendimento psicológico especializado, produtos e serviços específicos que supram os interesses de quem busca gozar de bem-estar, bem como oportunidades que incentivem o retorno ao mercado de trabalho àqueles que sonham como aos 20 e sentem-se com 40 anos.

A geriatria reconhece que não fumar, se exercitar e deixar a cerveja de lado não são práticas suficientes. Quem passou ou se aproxima dos 60 precisa ampliar seu universo enquanto ser social e aniquilar as barreiras do contrassenso de assentir que findou o bem viver e está na hora de recolher-se. Esta mudança comportamental, vale ratificar, empodera a mente daquele que tinha propósitos até então esquecidos. Os jovens de hoje foram os anciãos de antigamente que se deixavam de lado “porque serviam para nada mais”.

Chegaremos a 43 milhões de idosos em 2031 que não aceitarão uma nação que pré-julga e condena longevidade como ônus. Não se pode olvidar que a gratificação sentida ao gozar de 80 ou mais de 90 anos com acesso aos meios tecnológicos e expandindo o círculo de amizades, conhecendo novos lugares e sentindo-se independente de familiares não tem preço.  Exige-se, aqui, a admiração, o preparo e o respeito do brasileiro para com quem muito já viveu e não quer ir embora tão cedo.

Paula Hammel.

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