Aumento da expectativa de vida faz crescer o número de diagnósticos do Alzheimer

Doença neuro-degenerativa atinge principalmente pessoas com mais de 60 anos

18/09/2017

Por Rafael Maynart e Livia Leão | Portal Gazetaweb.com

Não se sabe ao certo a origem do problema e a cura ainda não foi encontrada. Alguns estudos apontam que determinados estilos de vida são fatores de risco. Mas, desde o século passado, a doença vem ganhando mais destaque, quando passou a existir uma maior preocupação com o cérebro. 

O aumento do número de diagnósticos de demência da Doença de Alzheimer deve-se, principalmente, à atual realidade de longevidade. Hoje a expectativa de vida dos brasileiros já ultrapassa os 70 anos. E, embora possa ocorrer em vítimas com menos de 60 anos, a Doença de Alzheimer é mais comum depois dessa idade. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a Doença de Alzheimer. No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico.

Estudos apontam que hipertensão e diabetes não controladas, obesidade, tabagismo, depressão e sedentarismo são fatores de risco para o desenvolvimento de demência da Doença de Alzheimer.  Pesquisadores indicam que se esses hábitos forem controlados podem retardar o aparecimento da doença.

Cansaço mental, problemas leves para executar tarefas diárias, perda de memória recente, desorientação no espaço, falta de iniciativa e motivação. Os sintomas iniciais, quando percebidos em pessoas com mais de 60 anos, podem ser confundidos com os problemas naturais que surgem com a idade. No entanto, é necessário ficar atento.

A Doença de Alzheimer, também chamada de demência, é uma doença neuro-degenerativa que afeta principalmente a memória. Provoca perda das funções intelectuais, afetando a capacidade do doente de se relacionar com outras pessoas e interferindo nas atividades diárias. A pessoa fica cada vez mais dependente de terceiros. 

Quando acontece o diagnóstico

A partir do diagnóstico, cuidar de uma pessoa com a doença é um verdadeiro desafio. A Doença de Alzheimer não atinge apenas o paciente. Ela envolve todos os que estão próximos. As mudanças são significativas e precisam ser incorporadas por todos da família. É necessário adequar ambientes, reorganizar a vida cotidiana, distribuir tarefas e oferecer suporte para o paciente. 

Eletrodomésticos, utensílios de cozinha, objetos cortantes, remédios e até mesmo alimentos, podem se constituir perigosos. É conveniente que todas as atividades desenvolvidas pelo paciente sejam supervisionadas. Ele não deve ser deixado sozinho ou sair sem um acompanhante. Estar próximo ao paciente permiti identificar as reais necessidades e elaborar estratégias funcionais e eficientes auxiliando os familiares e garantindo qualidade de vida e de relacionamento com o paciente.

Transformações na rotina de uma família 

Ana Cristina lida com a Doença de Alzheimer há cerca de um ano. Jandyra Lima, sua mãe, hoje com 82 anos, foi diagnosticada depois que sumiu ao sair para passear.

 "Ela sempre foi uma mulher muito ativa. Comecei a notar sinais de esquecimento, mas considerava normal por causa da idade. Mas um dia ela saiu para passear e só voltou horas depois contando que não conseguiu voltar antes, pois não lembrava onde morava. Decidi procurar um geriatra para saber o que estava acontecendo", relata.

Ana conta que vários exames foram realizados. Testes de memória e exames laboratoriais. Após o diagnóstico, a geriatra aconselhou que a família não revelasse que sua mãe está com a Doença de Alzheimer.

 A médica pediu para que não contássemos a ela, pois pelo perfil da minha mãe, o risco de desenvolver um quadro depressivo é muito grande", explica Ana.

Desde então, a família vive um processo de aflição, incompreensão e até mesmo brigas. "Ela não sabe da doença e, como sempre foi muito independente, quer fazer tudo sozinha. Não aceita ajuda de ninguém. Para a família é muito difícil elaborar estratégias para lidar com ela 24 horas", lamenta Ana.

Três pessoas em casa

Se ter que lidar com a doença em alguém próximo já é difícil, imagine possuir três pessoas diagnosticadas com o Alzheimer? O empresário alagoano Érico Santos, de 55 anos, convive com a mãe Marinete Santos, de 87 anos; a sogra, Lourdes, de 85 anos; e cunhada Mércia, de 55 anos. A convivência, as dificuldades, as superações enfrentados por Érico e família viraram um livro, que será lançado no dia 28 deste mês, em uma livraria do Maceió Shopping.

O empresário relata para o leitor todos os momentos vividos por ele, desde os primeiros sintomas, passando pelo diagnóstico e até os dias atuais. Principalmente com sua mãe, que está no estágio 3 da doença, onde ela não reconhece as pessoas, ambientes.

Segundo ele, seu objetivo é ajudar as pessoas a diagnosticar a doença o quanto antes, porque desta forma o acompanhamento da evolução da doença torna-se mais fácil. E enfatiza que é necessário muita paciência e muito amor.

"Sem amor é impossível. Porque uma hora ela está com você, outra hora ela não está mais. O paciente, que precisa de um cuidado maior, se não tiver ele vai se sentir bastante sozinho. É uma doença que, infelizmente, não tem cura, mas há formas de lidar com ela de maneira mais tranquila e ter a mente pronta para qualquer situação", destaca.

Érico também ressaltou da importância da contratação de um cuidador, porque, segundo ele, haverá momentos em que vai existir conflitos e o desgaste é inevitável. O cuidador estará preparado para qualquer situação.

Alternativas para a convivência

Uma alternativa encontrada para aliviar a sobrecarga do familiar-cuidador e garantir um tratamento de qualidade para a paciente é a contratação de cuidadores profissionais. As famílias que optam por esse profissional podem enfrentar dificuldades para encontrar um cuidador compatível com a vida e as necessidades do paciente.

Para essas famílias, há a possibilidade de buscar uma empresa que garanta todo o suporte necessário na hora de contratar um cuidador. É importante que ele tenha informação sobre a doença de Alzheimer e saiba identificar e manejar sintomas com tranquilidade sem confundi-los com birra ou preguiça. Todo trabalho desenvolvido com o paciente deve ser pensado e definido entre o cuidador, a família e o médico responsável.

O paciente de Alzheimer tem algumas necessidades e características bem especificas. "É um paciente que por hora pode estar agressivo, pode apresentar um quadro de insônia, de depressão ou apatia. Os cuidadores precisam estar orientados no sentido de desenvolver atividades que ocupem e tratem o paciente, garantindo uma melhor qualidade de vida", explica Érico. 

O processo de envelhecer 

De acordo com a médica especialista em geriatria, Helen Arruda, não há como prevenir a doença, mas é possível combater os fatores de risco e retardar o aparecimento de doenças crônicas na terceira idade, como o Alzheimer. Ter assistência médica de qualidade, apoio da família, são fundamentais para enfrentar esse período da vida. 
Uma mudança no ritmo de vida é extremamente positiva. Praticar atividade física, manter uma dieta adequada, ativar o cérebro e buscar a vida em grupo ajudam a proteger o cérebro. 

 "A atividade física exige do paciente concentração e atenção. Com isso, forçamos a criação da memória recente. Além, de contribuir para a sociabilidade", esclarece Arruda. 

O recomendado são 15 minutos de atividade física, no mínimo três vezes por semana com acompanhamento individual. Optar por atividades em grupo - hidroginástica, dança ou Pilates - que forçam a interação, auxilia na melhora da mudança de comportamento. 

Para o fisioterapeuta e instrutor de Pilates, Felipe Maynart, o método adotado por Joseph Pilates - séries de dez repetições - contribuí não só para a criação da memória neurológica, mas para a memória do corpo, da postura e respiração.

Um dos problemas mais comuns entre os idosos é a solidão, fator que depõe a favor de um envelhecimento mais rápido. Atividades em grupo que exigem interação são aliadas do envelhecimento saudável. 

"Diante de um desafio, o cérebro se reinventa", explica Helen. Aprender um instrumento musical, uma nova língua, ou usar as novas tecnologias, buscar raciocinar e enfrentar diversidades de situações, mesmo que pequenas mantém o cérebro ativo.

Para a geriatra, o ideal é que a preocupação com envelhecer bem comece ainda na juventude. Manter hábitos saudáveis irá ajudar a prevenir doenças e ter uma maior qualidade de vida. "O mais importante na hora de envelhecer é manter sua autonomia e independência", garante Helen Arruda. 

Até 2050, a Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê o aumento no número de casos de demência entre os idosos. Com o crescente envelhecimento da população esse aumento pode ultrapassar os 500%. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), a doença que mais provoca demência na população idosa é o Alzheimer. E o número de casos vai mais que dobrar até 2030. 

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