Idosos recuperam a qualidade de vida e a autoestima com atividades físicas

Em alguns casos, prática pode até reverter a necessidade de uma cirurgia

28/06/2017

Por Gabriel Menezes

RIO - Que a prática de atividades físicas é um hábito saudável ninguém tem dúvida. Porém, o que cada vez mais gente está descobrindo é que na velhice ela pode ser um fator decisivo entre uma vida cheia de autonomia e uma rotina com dores e limitações. E, para quem pensa que nem todos os que chegaram à terceira idade têm mais condições de fazer exercícios, profissionais de saúde garantem que existem programas específicos para todos os tipos de pessoas, independentemente das dificuldades que tenham.

— Atividades regulares sempre são o melhor caminho. Elas auxiliam tanto no equilíbrio quanto na manutenção da massa óssea e muscular, prevenindo e ajudando no tratamento de doenças como osteoporose e sarcopenia, que é a substituição de músculo por gordura — diz o ortopedista Sérgio Maurício, especialista em joelho e membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

A aposentada Therezinha de Novaes Rocha, de 82 anos, moradora de Copacabana, é um exemplo vivo de tais benefícios. Há cerca de quatro anos, ela passou por uma verdadeira revolução na sua qualidade de vida após começar a praticar atividades. Therezinha sofria com dores constantes no quadril e no joelho (provocadas por uma artrose grave) e pelo rompimento do glúteo médio, causado por um tombo. Na época, os médicos diziam que a melhor solução seria a cirurgia para a colocação de próteses. Mas, devido à idade avançada, a aposentada preferiu apostar em outros meios para se recuperar.

— Eu sentia muitas dores e praticamente não tinha mais movimentos na perna. Era difícil fazer qualquer coisa simples do dia a dia. Isso criava uma dependência muito grande — conta Therezinha.

— Gosto muito de ir para a rua. Poder voltar a fazer as minhas atividades sozinha foi importantíssimo. Hoje, subo e desço escadas sem o menor problema e não sinto qualquer incômodo. Faz um bom tempo que não tomos mais remédios para dor — diz a aposentada.

O tratamento de Therezinha foi coordenado pela fisioterapeuta Erika Velasco, que tem um estúdio de pilates e reabilitação em Copacabana. Segundo ela, o foco principal do trabalho foi fortalecer os músculos da aposentada, além de alguns reajustes articulares.

— A dor normalmente começa por uma bobagem, como uma queda, por exemplo. A pessoa sofre uma lesão. Mas, se não é tratada, o corpo passa a se adaptar para funcionar com aquele problema. Com o tempo, a situação pode gerar uma artrose ou outras disfunções — explica Erika.

Ela acrescenta que o procedimento correto é a pessoa não deixar de procurar um tratamento logo que começar a sentir a dor, evitando o surgimento de questões mais graves.

— Muita gente tem a ilusão de que vai colocar uma prótese e tudo será resolvido. Não é assim. Se os músculos não forem fortalecidos, o paciente continuará tendo problemas como a falta de estabilidade — afirma a profissional.

Ela explica que é comum o idoso começar a fazer um exercício físico, mas desistir depois de sentir dor. A partir daí, torna-se sedentário.

— O nosso corpo não foi feito para ficar parado. Existe uma atividade específica para cada tipo de pessoa, independentemente das suas limitações. O importante é não parar — afirma a fisioterapeuta, ressaltando que a educação física e a fisioterapia oferecem um leque de opções que ajudam na reabilitação do paciente, como RPG, o próprio pilates e a osteopatia.

A profissional faz, ainda, um alerta:

— Algo que não é muito falado, mas é um problema seriíssimo, é que os idosos estão ficando viciados em anti-inflamatórios. Eles sentem dores e não tomam analgésicos. O excesso do medicamento pode causar diversos problemas e levar à morte. A melhor opção é buscar um tratamento — comenta.

O esporte também mudou a vida do contador Felicíssimo Cardoso, de 69 anos. Acostumado a praticar atividades físicas na juventude, ele acabou diminuindo o ritmo na vida adulta por conta do trabalho e da família. Com o tempo, passou a sentir muitas dores no pescoço, o que atrapalhava até a dirigir.

— Há cerca de quatro anos comecei a fazer artes marciais mistas e a minha vida mudou completamente. Hoje, tenho fôlego para tudo. Ainda estou trabalhando e o meu escritório fica no 12º andar. Subo sempre de escadas. O esporte melhorou muito o meu reflexo também. No início, eu sequer conseguia subir sozinho no ringue — conta Cardoso, que é aluno no Centro de Desenvolvimento e Pesquisa em Desporto (CPCD), em Laranjeiras.

UMA QUESTÃO DE CORPO E MENTE

A aposentada Sandra Regina, de 65 anos, ainda trabalhava no ramo da confecção quando passou a sofrer com dores fortes e constantes nas articulações e na bacia. Em dias mais graves, ela era obrigada a parar tudo que estava fazendo e deitar por alguns minutos até que o sofrimento diminuísse. Há cerca de cinco anos, começou a praticar a estimulação neuromotora no Centro de Desenvolvimento e Pesquisa em Desporto (CPCD), que abriu uma unidade em Laranjeiras há dois meses, e viu a sua vida se transformar completamente.

— Hoje eu sou outra. Não tenho mais dores como antes. Claro, por conta da idade, de vez em quando ainda sinto um incômodo, mas nada que se compare ao que eu passava rotineiramente. Não conseguia mais nem fazer atividades básicas como varrer a casa. Hoje, faço tudo — afirma Sandra.

Direcionada ao público idoso — com ou sem limitações físicas — e às vítimas de lesão neurológica, como o acidente vascular encefálico (AVE) e o mal de Parkinson, a estimulação neuromotora desenvolve as partes física, cognitiva e motora e, em parceria com o médico do aluno, devolve a independência (para quem não tinha) na realização das tarefas diárias.

— Fazemos atividades que fortalecem a musculatura postural da pessoa, o que previne que ela sofra quedas, um problema comum nessa faixa etária e que pode acarretar consequência sérias. Além disso, temos exercícios cognitivos. Num deles, por exemplo, os alunos precisam desviar de obstáculos ao mesmo tempo em que pedimos para que respondam a questões de raciocínio lógico — explica Orlando Folhes, fundador do CPCD.

Segundo ele, com o avanço das aulas, muitos idosos que já apresentavam quadros de depressão por não conseguirem realizar tarefas simples, como irem ao banheiro sozinhos, reencontram o prazer de viver.

— Tivemos resultados impressionantes. Alguns alunos que não saíam mais de casa agora passam o dia todo na rua, aproveitando ainda o fato de pagarem meia-entrada em shows e no cinema — conta o profissional.

A rede de academias BodyTech Company também oferece um programa com atividades que auxiliam na prevenção às quedas e na melhoria da saúde dos idosos.

Segundo o diretor técnico da rede, Dudu Netto, o objetivo é melhorar o equilíbrio e a flexibilidade das articulações e fortalecer a musculatura dos membros inferiores.

— Entre as principais atividades oferecidas, temos hidroginástica, alongamento e pilates. Também apostamos bastante nos exercícios aeróbicos de baixo impacto, com a utilização de bicicletas e esteiras ergométricas, e na musculação. O foco é sempre na força e na potência, além do equilíbrio e do fortalecimento da região central do corpo — destaca Netto.

Na unidade da BodyTech em Copacabana, um dos alunos é motivo de admiração por parte dos outros frequentadores: o médico aposentado Aloísio Melo Cunha, de 87 anos. Ele venceu há dez anos um câncer de próstata e hoje diz que a qualidade de vida melhorou com os exercícios.

— Malho duas vezes na semana e me sinto muito feliz. Não é bom para ninguém ficar no ócio, tem que exercitar o corpo e a mente — argumenta o médico aposentado.

REABILITAÇÃO CARDÍACA EM ALTA

Terapia já bastante difundida em países desenvolvidos, a reabilitação cardíaca ainda é desconhecida por muitas pessoas no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe um centro especializado para cada cem mil habitantes. Aqui, a realidade é bem diferente: há um centro para cada 4,9 milhões de pessoas. Embora esteja bem acima da média nacional, o Rio de Janeiro permanece com índices insatisfatórios: um centro para 400 mil pessoas. Inaugurado há menos de um ano no Catete, o Cardiologia do Exercício (ACE), centro especializado em reabilitação, busca melhorar o cenário.

De acordo com o diretor da unidade, o cardiologista Mauro Augusto dos Santos, uma das vantagens da prática é a melhora da qualidade de vida da pessoa. Além disso, a reabilitação cardíaca reduz os gastos médico-hospitalares, principalmente por gerar menos custo e ocasionar um período de internação menor.

— No Brasil e no mundo, as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito. Estamos certos de que a maioria dessas mortes prematuras poderia ser evitada por meio do exercício físico — afirma o médico, que também integra a equipe de cardiologistas do Instituto Nacional do Coração (Inca).

Segundo Santos, estima-se que 5% da população sofrem de algum tipo de cardiopatia e, portanto, necessitam de tratamento preventivo ou de recuperação por terem sofrido algum problema ou intervenção cirúrgica. Projetando esse índice para Zona Sul, a média é de 32.500 moradores que necessitam de reabilitação cardíaca.

O médico explica que o impacto significativo da prática na redução de óbitos pode ser comprovado na avaliação prévia dos pacientes atendidos pelo Cardiologia do Exercício.

— A avaliação é destinada a classificar o risco de cada paciente. Aqueles considerados de alto risco não chegam a 10%. Essa constatação nos indica que a maior parte pode seguir uma vida normal após ser submetida à reabilitação cardíaca com supervisão médica. Mas é fundamental que todos permaneçam fazendo exercícios físicos — explica o cardiologista.

Diretor responsável pela área de exercícios do centro, o profissional de educação física Roberto Macedo Cascon — que tem 15 anos de experiência em reabilitação cardíaca — afirma que os pacientes também são submetidos a exames complementares, como testes de potência muscular e avaliação funcional do movimento, para evitar ocorrências de lesões e obter a maior margem possível de benefício proporcionado pela atividade física.

— Eu não conheço outro espaço na cidade que conte com os recursos que temos aqui no centro para a reabilitação cardíaca. No ACE, o paciente se recupera com segurança e conforto — afirma Cascon.

O Cardiologia do Exercício fica no térreo do Condomínio Quartier Carioca, na Rua Bento Lisboa 120. Mais informações pelo telefone 3129-1653 ou pela página

Fonte: O Globo

 

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