Terceira idade é o grupo que mais cresce em rede social

Um quarto dos idosos brasileiros está conectado ao Facebook, o equivalente a 7,4 milhões

22/01/2019

Daiane Costa

03/11/2018 - 04:30 / Atualizado em 03/11/2018 - 21:05

Nos últimos dois anos, nenhum grupo cresceu mais em número de perfis no Facebook do que o de idosos. Até agosto, 7,4 milhões de pessoas com 60 anos ou mais estavam conectadas à rede social, o equivalente a um quarto do total de idosos brasileiros. Um crescimento de 56% desde 2016. O Rio é o estado onde a presença desse grupo no Facebook é maior. Mais de um terço dos idosos fluminenses, cerca de um milhão, estão na rede social. Os dados são de um levantamento da consultoria SeniorLab.

A popularização dos smartphones foi um propulsor dessa maior participação, que, segundo a pesquisa, tem como principal motivação o relacionamento com parentes e amigos. E caminha lado a lado com o avanço dessa parcela da população no e-commerce.

Rodrigo Amantea, professor de Marketing e coordenador da Educação Executiva do Insper, observa que, para os idosos, a rede social funciona como um grande conector de experiências e pessoas.

— Enquanto para os millennials a rede social é a porta de saída para o mundo, para os idosos é uma forma de trazer para dentro de casa amigos e parentes, estreitar laços, compartilhar memórias e vencer medos em relação ao uso da internet — resume o publicitário Martin Henkel, fundador da SeniorLab, consultoria especializada no consumidor sênior.

Mais independência

Prova dessa adaptação é que praticamente metade (49%) dos idosos no Facebook já comprou pela web.

— É um público que não só posta foto, mas já experimenta relações com aplicativos de transporte e streaming de música — complementa Henkel.

Teresinha Ferreira Barbosa, de 76 anos, entrou no Facebook por influência da filha. Ela não se diz viciada, como a colega de classe 

Margarida Maria de Lima, de 73, que acessa sua conta desde que acorda. Ambas fazem curso de informática em uma escola especializada em Campo Grande, no Rio.

— Sou uma pessoa curiosa e adoro ler as mensagens que as pessoas me mandam. Uma vez resolvi postar que tinha realizado uma biópsia, e, em menos de três minutos uma sobrinha que mora na Itália comentou. Várias pessoas me deram força, e isso me fez sentir mais forte até esperar o resultado — comenta Margarida, que frequenta as aulas há três anos.

Esse uso afetivo, explica, Valmari Aranha, diretora da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, tem relação direta com um dos maiores problemas relacionados aos idosos: a solidão.

— Os filhos crescem, formam suas famílias e o idoso fica sozinho. Muitas vezes, ele quer conversar com alguém que fez parte da história dele. Falar com pessoas que gostam da mesma coisa, tem os mesmos assuntos e notícias de interesse. A rede social auxilia, e muito, a reviver antigas amizades — afirma.

Thereza Ribeiro, de 60 anos, passa o dia inteiro na rede:

— Eu reencontrei amigos do tempo de escola. Usando o Facebook, se eu lembro o nome de uma amiga, pesquiso e caso ela tenha uma conta, vou achar. Ai conversamos e marcamos um encontro presencial. É muito legal. Já marcamos saídas em grupo e tudo. Hoje em dia, a pessoa acima dos 60 está tendo uma nova chance com as redes sociais de viver melhor. Tem muita coisa boa disponível, é só saber filtrar.

Teresinha Barbosa diz só ter tempo de acessar a rede à noite, apesar de ter o aplicativo em seu smartphone, como a maioria dos colegas de aula. A maior familiaridade com a internet a ajuda a ser menos dependente:

— Eu entro nos sites das empresas que fornecem água e luz e imprimo todos os boletos para pagar, sem depender de ninguém. Também uso para pesquisar material para minhas palestras religiosas. Não dá para ficar parado vendo a vida passar. Se não nos mantermos em constante aprendizado, esquecemos as coisas.

Dados do IBGE mostram que 19 milhões de celulares estão nas mãos de pessoas com 60 anos ou mais, o que equivale a 63% dos 30,2 milhões de idosos no país. O coordenador do MBA em Marketing Digital da FGV, André Miceli, lembra que essa maior integração ao mundo digital 

aumenta a empregabilidade desse grupo.

Marcelo Gil Cavalcanti, dono da Info School, criou turmas específicas para a terceira idade há oito anos e, hoje, os idosos são 30% dos alunos. Ele diz que esse público é o mais preocupado com as questões de segurança na rede:

— A popularização do smartphone facilitou a entrada desse público nas redes sociais, porque o manuseio é mais intuitivo.

Colaborou Matheus Maciel, estagiário, sob supervisão de Daiane Costa

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