O tempo das avós

Amor infinito e consciência da finitude temperam a relação com os netos

06/01/2019

Toda mulher que tentou conciliar carreira e maternidade conhece a culpa e a angústia de não estar presente em todos os momentos da vida dos filhos. No entanto, ao nos tornarmos avós, a sensação é de que tiramos a sorte grande. Somos uma geração que vive o bônus da longevidade, se sente mais jovem e com energia. Ganhamos uma espécie de prorrogação da partida, um tempo extra para fortalecer laços e deixar um legado, e sobre isso não tenho dúvidas: a convivência prolongada com pessoas que estão envelhecendo fará com que essas crianças e jovens tenham mais empatia em relação aos idosos.

 Relação com os netos: amor infinito temperado com a consciência da finitude  — Foto: José Godoy

Relação com os netos: amor infinito temperado com a consciência da finitude — Foto: José Godoy

 

Aproveite para se dar de presente essa dádiva que é acompanhar o crescimento dos netos. Entretanto, em hipótese alguma caia na tentação de tentar se apropriar deles. Passou pela sua cabeça que deveriam ir para outra escola, ter hábitos alimentares diferentes e uma rotina doméstica com regras menos severas? Aprisione todos os pensamentos que já se encadeavam na forma de uma observação ou comentário e guarde-os para si.

Somos convidadas da festa com pulseirinha vip, mas não as donas – boa parte da história deles se dará sem nossa presença. Lembre-se como os conselhos que ouvíamos de nossas mães ou sogras provocavam ondas de impaciência e irritação. Ofereça seu carinho e seus serviços, mas apenas o tempo de que realmente dispõe, e não toda a sua agenda. Mesmo que não esteja trabalhando, você precisa ver os amigos, ir ao cinema, cuidar de si mesma. O mesmo se aplica em relação ao dinheiro: a carteira da vovó (ou do vovô) não é fonte inesgotável de notas e moedinhas e tem que garantir seu sustento até o fim.

Vivemos o suficiente para sermos sábias e fugir de todas essas armadilhas. A única coisa que não temos mais é tanto tempo. Quanto teremos do seu futuro para apreciar? De aniversários e festinhas escolares a formaturas? Que namoradas ou namorados conheceremos? Será que assistiremos ao seu casamento ou veremos a carinha de bisnetos? Todo o amor que sentimos é como um manto que nos aquece, mas também nos fere, porque esbarra na projeção da nossa própria ausência. Mas agora que somos mais velhas, também já sabemos que não temos controle sobre as coisas. Portanto, um brinde à nossa sorte!

Por Mariza Tavares - G1

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